Agora sim, depois do rescaldo feito, ideias arrumadas, pensamentos em ordem, consigo finalmente falar um pouco desta aventura.
Infelizmente não é típico meu ficar tanto tempo ausente de partilhar algo com quem me vai seguindo, mas confesso que desta vez tudo foi diferente.
Porquê?
Nem sei bem explicar, mas vou tentar resumir um pouco esta nossa aventura...
Aqui vai...
Dia 01/11/2014. 10:00 am.
Entrámos finalmente no barco
em Tarifa. O destino do dia era Larache, mas primeiro ainda teríamos que chegar
a Tânger, a porta de entrada mais peculiar de Marrocos, penso eu já que só
conheço esta!
Já dentro do barco,
descansados, carros arrumados e presos com cintas no porão, foi o único momento
em que pude finalmente reflectir sobre esta viagem e sua preparação.
Saímos de Loures no dia
31/10 às 22 horas.
Este primeiro dia seria o mais extenuante de todos, isso já
desconfiávamos de antemão, contudo a adrenalina de voltar a África não nos
deixava quase que raciocinar como deve ser. Lá seguimos sempre viagem, os três
carros, as sete pessoas, tudo super animado e sempre a falarmos uns com os
outros pelo CB.
Estes são com toda a certeza
os 700 km mais difíceis de fazer desta expedição. Depois de cerca de 10 horas
de viagem, chegámos finalmente ao primeiro destino do dia: Tarifa. Felizmente
não podia ter corrido melhor, pois apanhámos o primeiro barco da manhã, o que
faria com que chegássemos cedo ao outro lado.
A preparação desta viagem
exigiu muita dedicação da parte de todos os intervenientes. Foram cerca de dois
anos a planeá-la e nos seis meses que a antecederam os últimos testes foram
feitos em solo nacional. O investimento não é pequeno, contudo o retorno da
experiência vale o valor efectivamente gasto.
Larache - 01/11/2014
Finalmente do outro lado e
depois de passar a fronteira que é de facto algo só visto e vivido, que não
consigo mesmo descrever, seguimos finalmente rumo a Larache, a cerca de 90 km
de Tânger. Atravessar Tânger é sempre a primeira aventura por terras
marroquinas.
Chegada finalmente a noite
em Larache, era tempo de descansar. O dia seguinte tinha como destino Midelt, a
última cidade antes de atravessarmos o Atlas.
Eram 06h30 da manhã quando o
despertador tocou. Hora de tomar o pequeno-almoço e começar a jornada desse
dia. Felizmente estava um dia bonito, com muito sol e o caminho seria à partida
fácil para todos.
Este dia incluiu uma paragem
para aprendermos um pouco de História Mundial. Visitámos a cidade romana de
Volubilis, que data do século I e II a.C., sendo um lugar incrível. Apesar de
ainda só parte da cidade estar explorada, os monumentos já visíveis como a
Porta de Tânger, o Arco do Triunfo ou mesmo a Basílica são de arquitectura e
formas impressionantes. Faz nos pensar como é possível tais monumentos estarem
tão bem conservados ainda nos dias de hoje.
Volubilis
O destino seguinte seria a
Floresta dos Cedros, sempre impressionante, muito até pelo frio que se faz
sentir nesta região. Para chegarmos aqui e ver os macacos selvagens à luta
entre eles só porque sim, passámos também em Infrane, cidade de férias do Rei.
As viaturas e seus passageiros estavam ainda completamente afinados, já que o
percurso de cerca de 350
km foi praticamente sempre em estradas nacionais, alcatroadas, mesmo
aquelas onde apenas cabia um veículo.
Chegada a Midelt no final do
dia e o jantar não poderia ser mais típico: tágide de frango com legumes, uma
excelente sopa de entrada e para sobremesa fruta da época. As romãs eram
enormes, nunca tinha visto nada assim. Mas muito saborosas.
A partir do terceiro dia
desta expedição é que começavam a ser mais a sério as etapas diárias. A
expectativa estava elevada em atravessar finalmente o Alto Atlas. Sempre a
subir durante praticamente duas horas de viagem na nacional 13, atingimos a
altitude de 2000 metros rapidamente, já que Midelt fica situada a cerca de 800
metros. No cimo da serra Ayachi avistava-se neve e a manhã, com muito sol,
estava bastante fria. Todos os jipes se ressentiram desta alteração de altitude
e foi preciso puxar a sério pelas máquinas. Os Land Rover´s, com a
particularidade de terem turbo, tiveram uma prestação mais fácil, contudo o
Toyota, sempre no final da caravana, lá chegou mais devagar ao topo da serra. A
partir daí seria sempre a descer até passarmos por Al Rachidia.
Neste dia
chegámos a Merzouga, onde ficámos duas noite para podermos desfrutar do típico
passeio de camelo nas dunas e ainda aproveitar a Rota dos Oásis, circulando
sempre à volta do deserto de Erg Chebbi. Aqui os pilotos puderam finalmente
testar as máquinas nas dunas e verificar o comportamento de cada um naquele
tipo de piso, já que nos esperava ainda atravessar o tão desejado deserto de
Erg Chegaga, bem mais a sul.
Os dias seguintes seriam
preenchidos com caminhos e lugares completamente novos para todos, mesmo para a
organização, que em 2012 já tinha passado por alguns dos pontos anteriores.
Merzouga
O quinto dia tinha como
destino a cidade de Tinghir, em pleno Alto Atlas. O caminho até lá seria
basicamente feito por deserto, pedras e muito fes fes. Apenas 20 km estavam
feitos desde que saímos nessa manhã e já nos abordavam pelo caminho, dizendo
que em Ramlia o caminho estava intransitável.
Diziam os marroquinos que o
rio não dava para passar porque a suposta água dava acima do capot dos jipes.
Ficamos preocupados, mas como ainda faltavam cerca de 40 km até lá, seguimos a
nossa rota na mesma. Mais à frente, quando faltavam apenas uns 20 km, um rapaz
de mota, que não tinha mais de 16 anos, ofereceu-se para nos levar a passar o
rio. Seguimos então atrás dele, no entanto o aquecimento da sua mota, a pedais,
não permitiu que ele pudesse acompanhar-nos até ao destino final, ficando pelo
caminho 10 km depois de ter começado aquela jornada.
Ficou triste por não nos
conseguir ajudar, explicou-nos por escrito num desenho como teríamos que fazer
para passar o rio e onde o poderíamos fazer, e seguimos viagem.
De facto o rio estava
intransitável, contudo não devido à água, mas sim devido ao excessivo fes fes que o preenchia. A passagem
acabou por ser fácil de fazer e seguimos viagem, sendo o caminho sempre
praticamente deserto, passando por alguns oásis e onde a areia muitas vezes
quase “calava” os motores das máquinas.
Tinghir é uma cidade
pitoresca e fria. Precisávamos descansar como deve ser porque o dia seguinte
previa-se duro, cansativo e longo. Destino era Zagora.
Amanheceu bem cedo para
todos nós, tínhamos 330 km para fazer e não sabíamos o que nos esperava. As
Gargantas de Thodra foi o primeiro ponto especial desse dia. Um lugar
impressionante, onde o sol não chega a tocar todo o ano em algumas pedras do
chão. Seguindo sempre pelos trilhos bem delineados, avistámos ao longe a ponta
da serra, onde a neve preenchia os picos mais altos a mais de 3000 metros de
altitude. Circulámos sempre pela montanha e a imagem de fundo era cada vez mais
impressionante. Onde não há nada, apenas se avistam pedras e terra, onde os
rios conseguem destruir e abater as estradas mais próximas do seu leito,
aparecem crianças, vindas de “dentro das pedras”, literalmente, com a face
rosada, queimada do frio da montanha, pedindo água, roupas quentes, alguma
comida. Dentro das suas “casas” nas pedras, avistamos fogueiras pequenas, única
fonte de calor daquele dia. Parte-nos o coração este cenário, mas que poderemos
fazer senão ajudar com o pouco que temos nos carros? Seguimos viagem, de lágrimas nos
olhos, deixando para trás estas pessoas, crianças, velhos, passeando algumas
cabras, que vivem a mais de 2000 metros de altitude e onde no pico do calor de
inverno se registam pouco mais de zero graus…
O dia ia avançando e chegava
finalmente a altura de subir a Jbel (Serra) do Sarhro. Impressionante esta
passagem, inóspita, por caminhos de pedras, onde a velocidade máxima nunca
ultrapassou os 10-20 km por hora. Algumas populações vivem neste local, onde
não existe praticamente nada, contudo a subida até ao topo foi impressionante,
sempre feita em “zig zag” e com a ajuda das crianças locais que nos iam
indicando o caminho, pois olhando para o cimo da serra o mesmo não é visível. O
topo desta serra é incrivelmente belo! Existe uma loja de venda de objectos
artesanais, longe da civilização mais próxima, e onde também quem quiser pode
comer uma refeição quente. A partir daqui seria sempre a descer até Zagora, mantendo-se
a velocidade média dentro dos mesmos valores.
No final do dia, o pôr-do-sol
brindou-nos à chegada ao destino e uma refeição quente esperava por nós. O dia
seguinte seria fácil, a dormida era a apenas 100 km dali, em M`hamid, ultima
cidade antes do Erg Chegaga. A Garage Iriki era ponto de passagem e paragem
obrigatórias no dia seguinte, pois as máquinas precisavam todas de uma pequena
revisão de profissionais, a limpeza das fechaduras que começavam a empanar
algumas portas, o reaperto dos parafusos dos jipes e alguns retoques
necessários para que pudéssemos seguir viagem, nesta aventura que ainda só ia a
meio.
M`hamid é uma cidade
pitoresca, onde o gasóleo que existe é numa bomba artesanal na garagem de um
habitante, colocada nos veículos através de um funil e vertida de um bidon.
Existem diversos hotéis, incluindo tendas em pleno deserto ou um 5 estrelas
incluído no Rotary International. Acabámos por ficar num a 100 metros do centro
da cidade, 3 estrelas, onde só estávamos nós. À noite pudemos conviver com os 2
marroquinos que exploram o espaço e conhecer um pouco da vida neste local às
portas do deserto....
M`hamid - posto de abastecimento
M`hamid - posto de abastecimento
M`hamid - posto de abastecimento
Depois de uma noite não muito bem dormida, seguimos viagem rumo a Tata.
Esta manhã foi preenchida praticamente toda pela passagem nas tão desejadas dunas do Erg Chegaga.
Aqui todos os pilotos puderam finalmente testar a perícia da condução na areia fina e ao mesmo tempo apreciar a imensidão daquele deserto, não tão imponente em altura como o Erg Chebi, mas com uma extensão de perder de vista.
Pelo caminho também muitos camelos selvagens vagueavam pelo deserto, em busca de alguma comida. Esta pista é bastante conhecida no meio do todo-o-terreno e durante a sua passagem fomos nos cruzando sempre com outros jipes de outras expedições.
Erg Chegaga
Erg Chegaga
Contudo, esta pista nem sempre foi de terreno suave de areia. Pouco tempo depois iniciámos o track na pista de terra, pedra e ainda mais pedra. Antevíamos um dia complicado, até porque a velocidade máxima para podermos acertar no sítio certo e evitar as pedras mais bicudas não ultrapassou os 20 km / hora.
Sempre viajei como co-piloto e confesso que desfruto imenso em ir ao lado do Daniel, a ver as paisagens ou a tentar ajudar quando necessário. Neste caso levei o meu Guia de Marrocos onde vamos sempre aprendendo um pouco da cultura do país e obviamente os hábitos de cada região, os hábitos de um povo, que variam imenso de Norte para Sul, ou de Este para Oeste. Mas, desta vez, tive ainda a oportunidade de conduzir nesta pista o meu Defender. Apesar da velocidade média não ultrapassar os 10-15 km / hora, adorei poder desfrutar destes 20 km ao volante em terras marroquinas.
Um dos pontos altos deste dia foi a passagem pelo impressionante Lago Iriki, um lago seco agora, pois era o local onde o Rio Draa desaguava, o que tornava o local completamente intransitável durante a época das chuvas. Agora, por sua vez e desde que foi feita uma barragem em Ouarzazate, este local é seco durante praticamente todo o ano.
Lago Irik
Lago Irik
Antes de chegar a Foum Zguid, ao longo da pista, existem paragens obrigatórias em controlos militares. Soldados, cancelas fechadas, todos têm que parar. Afáveis com os turistas, solicitam dados do condutor, do passageiro e da viatura. Perguntam de onde viemos e para onde vamos. Segundo consta existem muitos acidentes ou incidentes nestas pistas e de forma a garantir que todos estão em segurança fazem estes “checkpoints” de X em X km`s. Um boa forma de nos sentirmos em segurança caso nos aconteça alguma coisa.
Seguimos viagem calmamente, continuando por alcatrão até ao destino final deste dia: Tata.
Felizmente o dia correu melhor do que o que esperávamos e pudemos desfrutar de um excelente final de tarde na piscina do hotel.
Conhecemos ainda 2 motards, já com alguma idade, noruegueses, e que vinham nesse dia de Marraquexe. Contaram-nos que um motard tinha desaparecido nesta mesma manhã na pista que acabávamos de fazer. Tinha saído cedo de M`hamid em direcção a Foum Zguid e o amigo que ia com ele perdeu-o de vista. Talvez as tempestades de areia que vimos ao longo do percurso tenham dificultado o passeio, talvez tenha caído e desmaiado, talvez… Durante o resto da viagem procurámos sempre notícias e hoje finalmente encontrei num jornal belga a actualização da situação: o motard apareceu são e salvo. Ainda há finais felizes!
O dia seguinte teria como destino o ponto mais a sul desta expedição: Tan Tan Plage.
Chegaríamos finalmente à costa, iríamos finalmente ver o mar. Antevíamos um dia longo, já que seriam 450 km, divididos em 2 partes: 200 km de alcatrão até Assa e depois os restantes km`s de pistas, pouco frequentadas, e que prevíamos de muita pedra.
Ao longo da estrada nacional, sempre circulando no sopé da montanha, avistávamos tendas espalhadas ao longo de todo o caminho. Mais uma vez o guia ajudou-nos a compreender o porquê: estas tendas pertencem então a nómadas, pastores que no verão estão num local e no inverno estarão noutro, não só por causa do clima mas também pelo tipo de pastagens. As tendas são feitas de peles de cabra ou de camelo e são quentes no inverno e frescas no verão, possuindo ainda 2 salas distintas: uma para homens e outra para as mulheres.
Quando o alcatrão terminou o percurso tornou-se consideravelmente mais sério. As pistas não estão bem delineadas nesta zona bastante inóspita, devido essencialmente à sua pouca utilização e facilmente saíamos do track. Em alguns troços, pequenos, tivemos que improvisar, no entanto estávamos um pouco assustados, pois o dia ia passando e tinham-nos dado um conselho: nunca sair das pistas! Nunca se sabe o que poderá haver no solo, fora do caminho certo.
Lá encontrámos o nosso rumo depois de algum bocado não perdidos mas à procura do caminho certo e seguimos até Tan Tan Plage.
Aqui fomos abordados pela polícia às portas da cidade… Pergunta da praxe: não parou no STOP? E nós: qual STOP? Parece que havia um STOP algures e que aqui é certo: todos param e se não param pode haver multa!
O polícia aproveitou para saber de onde éramos e o que fazíamos. Multa: nada! Seguimos viagem até ao hotel, mesmo à beira mar. Muito bom. Banho quente. Descansar. Foi um dia de nervos.
Tan Tan Plage
Tan Tan Plage
Na manhã seguinte teríamos que sair cedo.
Chegava finalmente o grande dia de fazer a travessia pela praia (Plage Blanche), ao longo de cerca de 50 / 60 km de areia.
A maré teria que estar baixa, tudo teria que estar de feição. À chegada à praia o Discovery lembrou-se de aquecer um pouco quando o piloto Helder Santos puxou um pouco mais por ele para sair da areia.
O piso era falso.
Fomos todos apanhados desprevenidos, mas felizmente ninguém atascou.
Era altura de retirar um pouco de ar aos pneus e sem esperar nem mais um minuto seguir sempre junto à água, onde a areia é supostamente mais rija. Todo o percurso foi feito com muita tensão, já que o Toyota, não tendo turbo e estando com um problema na tracção, ao fazer esta pista de areia “movediça”, não conseguia ir a uma velocidade superior a 70 – 80 km / hora, enquanto os Land Rover`s seguiam sempre a 100 – 110 km / hora. E tinha mesmo que ser feito tudo muito rápido! A maré ia subindo e era visível.
Ao nosso lado direito dunas imponentes em altura lembravam-nos que não havia saída possível a não ser chegar ao final da praia…e a maré ia subindo…subindo… As gaivotas voavam, assustadas, á nossa passagem, e o perigo de uma embater nos pára-brisas é sempre iminente, devido ao vento junto ao mar. Depois de tanta ansiedade chegámos finalmente ao final da praia… Ufa…que alívio! E ao mesmo tempo que emoção, que adrenalina, que espectáculo!
Plage Blanche
Aqui tivemos oportunidade de conhecer um casal de suecos que viajavam no seu Land Rover Serie II. Começaram esta jornada no dia 01 de Outubro, em Gotemburgo, Suécia, e vieram descendo a Europa até Itália, mais precisamente Génova. Aqui apanharam o barco para Tânger, que demoraria 2 dias a chegar.
Em solo firme novamente e mapa na mão começaram, pela segunda vez nas suas vidas, a percorrer Marrocos de uma ponta à outra. Vinham nesse dia de Marraquexe e queriam, tal como nós, atravessar a Plage Blanche.
Contudo, naquele momento que ali chegaram, a maré tinha subido e não dava para passar.
Solução? Iriam ficar ali naquele mesmo lugar à espera que a maré voltasse a descer.
Porquê esperar? Porque em conversa com a senhora, contou-me que tiraram um ano para fazer esta viagem, cujo destino final seria África do Sul. Um ano?? Ela disse, sorrindo, “...sim, um ano. Os filhos estão crescidos, criados (um tem 33 e outro 19 anos), e resolvemos tirar este ano para esta viagem”. Que maravilha...
Incrível, pensei! Gostava de um dia poder fazer o mesmo...
O jipe estava todo equipado. Por dentro e por fora. O 109 levava consigo uma tenda no tejadilho, pranchas metálicas e caixas igualmente metálicas com todo o equipamento. Por dentro uma mini cozinha improvisada que se poderia transformar em quarto, nas noites onde o vento forte ou as chuvas não deixavam que a tenda de cima pudesse ser usada. Desta vez também tinham geladeira.
O jipe, conforme imagens mais abaixo, está personalizado com os nomes de todas as cidades e países por onde já foram com ele. Um casal extremamente calmo e descontraído, típico de quem tem 365 dias pela frente para desfrutar de momentos únicos, uns melhores que outros com toda a certeza, mas que serão enriquecedores.
O objectivo entretanto seria em Dakar colocar o carro novamente no barco e desembarcar na Nigéria para retomar a estrada. Ela ainda quer ir ao Quénia. Era um sonho antigo. Espero que o possa concretizar.
Eu aqui do lado do continente europeu estou a torcer por eles, para que tudo corra pelo melhor, para que vão até lá abaixo e regressem aos seus lares, às suas famílias para o ano que vem. Tentei procurá-los na Internet, pois não fiquei com dados nenhuns deles. Nem nomes. Mas não encontrei nada. Mas aqui de longe, penso todos os dias nesta aventura deste casal e desejo que estejam bem.
Entretanto seguimos viagem, sempre a vislumbrar o mar à nossa esquerda, junto à costa, sempre na falésia, o sol batia na água e as pistas revelaram-se soberbas, para o final já a chegar ao destino, os pilotos poderam ainda ultrapassar umas dunas de areia e testar a capacidade das maquinas após 11 dias de expedição e cerca de 3500 km acumulados.
Quase a chegar a Agadir
Chegámos finalmente a Agadir e pudemos tomar o tão desejado banho quente, uma refeição boa e descansar.
Arrancámos cedo, como sempre, seguindo viagem pela
Nacional 1, com o mar a brindarmos sempre até ao destino final. Pelo caminho
muitas operações stop em vários locais aguardam por um pequeno erro de alguém
para poder facturar. E assim foi.
Ainda mal tínhamos deixado Agadir e o Daniel,
sem querer, pisou um traço contínuo.
Pára tudo.
O polícia pediu os nossos
documentos e ao princípio nem estava a perceber o que lhe tínhamos dado para as
mãos. Lá viu a matrícula e que éramos estrangeiros. Pediu logo o valor da multa
referente à infracção e o Daniel começou a suplicar que o perdoa-se, que não
tinha reparado… O polícia sem perceber chamou um surfista que estava a passar
para ajudar a traduzir o pedido insistente dele de desculpas. Ainda se riram os
dois, ao falarem em árabe e deixaram-nos seguir sem pagar nada. Mas avisaram:
cuidado com os sinais, respeitem os traços contínuos, há sempre polícia.
Simpáticos, ainda nos fartámos de rir todos, depois do nó que tínhamos no
estômago passar, claro!
Estrada Nacional a caminho de Essaouira
De facto o dia seria mesmo muito calmo, com o momento
hilariante do dia a serem as cabras que sobem às copas das árvores! No mínimo
estranho, já que ver macacos a saltar de galho em galho parece normal, mas
cabras penduradas, nunca imaginámos!
Acabei por ler no guia que é normal as cabras desta zona
subirem para as Argânias (árvore que dá o fruto de onde se produz o óleo de
argânia, muito popular em Marrocos), para comerem o fruto…e como nos galhos
mais junto ao chão, onde é mais fácil de chegar, estão mais escolhidos, elas
sobem até ao alto para apanharem os frutos melhores. Inimaginável!
cabras que sobem às copas das árvores
cabras que sobem às copas das árvores
Chegámos finalmente a Essaouira, onde acabaríamos por
ficar 2 noites.
O nosso hotel, mesmo junto à praia, era excelente e muito perto
do porto de pesca e da Medina. Ainda era cedo, escolhemos uma marisqueira para
jantar e fomos surpreendidos!
Numa casa de madeira, quase que à luz de velas,
onde os pratos e copos e talhares possivelmente ainda teriam restos do almoço,
e gatos também comem à mesa, jantámos uma excelente mariscada e comemos
diversos peixes excelentes! Ainda houve tempo para desfrutar de um copo num bar
que ficava no topo de um edifício, uma terrassa
com uma vista espectacular sobre o porto e uma música lounge fabulosa.
A Medina
A Medina
A Medina
A Praia
A Esplanada fabulosa
Aproveitámos para relaxar, rir entre todos e relembrar
algumas peripécias desta viagem.
Deu para respirar fundo e neste momento
percebermos o que já tínhamos percorrido, o que os carros já tinham passado, o
que todos já tínhamos experienciado, mas nunca tivemos a noção do que estava a
acontecer! Estranho não é?
O dia a seguir foi de passeio pela cidade, as viaturas
ficaram a descansar este dia e nós a descansar delas.
Foi dia de compras na
Medina, conhecer um pouco da cultura desta cidade, dos locais mais emblemáticos
e voltar a almoçar uma excelente mariscada no mesmo local do dia anterior.
Tudo
excelente novamente. Estava tudo a correr tão bem que por vezes parecia
mentira. Tantos dias, tantos km`s, tanta gente e tantos carros, não poderiam
ser melhor!
Tudo perfeito!
Nesta altura começava outro sentimento a crescer: o
regresso a casa.
As viaturas em Essaouira, na despedida da cidade
A próxima cidade de destino seria Casablanca. Contudo, dado que no final da manhã deste dia já estávamos a chegar, decidimos seguir viagem até Kenitra.
O caminho, sem alcatrão, depressa nos levou ao destino final. Surpresa das surpresas: apenas um hotel existia. Assim, escolha fácil para dormir, se tudo corresse conforme o planeado, esta seria a última noite em solo marroquino. O plano alterou e o objectivo do dia seguinte seria apanhar o barco ao final da manhã para podermos ir dormir a casa…
E assim foi, dormimos bem, um dos nossos companheiros de
viagem, o Canu, ainda foi à discoteca do hotel nessa noite e segundo conta
divertiu-se imenso, já que havia imensas marroquinas, de cara coberta pelos
seus lenços, mas todas tinham uns olhos lindos!
Episódios desta expedição que ficarão com toda a certeza
na memória de todos…
Rumo sempre a norte, sempre por alcatrão, chegámos a
Tânger ao final da manhã conforme planeado. Era quase meio-dia e o último barco
da manhã, descobrimos nessa altura, iria partir em 10 / 15 minutos. Passamos
rapidamente para o scanner (sim, a
saída da fronteira de lá para cá não é como há dois anos, agora os carros são
alinhados e um scanner passa por
todos e só se houver algo de desconfiar é que não embarcam) e por pouco não
conseguíamos apanhar o barco, mas na fronteira deixaram o Discovery (Hélder,
Xana e Canu) seguir connosco, mesmo sem fazer o check-in no scanner.
Já sentada no barco, no regresso a Portugal, vivia um
turbilhão de emoções.
Queria voltar a casa, para o meu espaço, o meu mundo, mas
ao mesmo tempo tinha saudades de deixar este país, aquelas gentes, afáveis, de
sorriso sempre pronto ou um aceno como quem diz “boa viagem”.
Terra de gente
boa.
Sítios de paisagens únicas. Locais que nos marcam, nos cravam na pele
emoções distintas, nos transformam e nos unem mais um bocadinho a quem nos
acompanha nestes dias. O nosso carro que foi, que veio, sem nos falhar. Nunca.
De facto, esta viagem marcou-me.
Marcou-me não só pela experiência em si, mas essencialmente pelo turbilhão de sensações que a mesma provoca.
Primeiro a ansiedade da data de partida, depois
a expectativa da chegada ao outro continente, entretanto a euforia dos momentos
vividos diariamente e por fim o regresso a casa, a sensação de missão cumprida
e ao mesmo tempo a sensação de estarmos mais completos e ao mesmo tempo mais
vazios.
Estranha esta forma de ser e sentir.
Nem sempre acordamos com vontade de falar, nem sempre
estamos “em dia sim”. Eu por mim falo. Mas ali, como que obrigados a partilhar
estes dias com mais 6 pessoas, à medida que o tempo passa, os dias vão-se
tornando únicos, as pessoas vão fazendo parte de nós, a amizade, o
companheirismo, a entreajuda, a solidariedade e, dado o crescente conhecimento
interpessoal, todos sabem os seus lugares e todos se respeitam mutuamente.
Todos estiveram ao mais alto nível. Sem excepção.
Obrigada a cada um de vocês por me terem dado este
privilégio de poder estar 15 dias a Descobrir Marrocos convosco!
A Pandilha no seu melhor!
aTTé breve!!
Organização:
DR Expedições
Patrocínios:
RSN.Imagens
JMS Oficina Auto
Portugal 4x4
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